quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Sorriso

(28/09/2014)
Eu poderia dizer que o que eu mais sinto falta em você é aquele sorriso lindo que eu ganhava ao te fazer rir, ou o detalhezinho que o enfeitava, mas não é. Na verdade, eu sinto falta de tanta coisa que é até difícil escolher uma só, sabe? Quase tanto quanto era escolher o que eu mais gostava em você. Eu escolhi o sorriso. Você lembra? Eu disse que gostava muito dele, encarando-o. Talvez você tenha pensado que fosse por causa do piercing. Poderia ser aquela sua voz que me derretia, o abraço que me escondia ou o beijo que me acendia. Ou o cabelo, as mãos, a atitude. Mas eu escolhi o sorriso.



Sinceramente, eu já tô até meio cansada de dizer que sinto sua falta. De sentir sua falta. É repetitivo na minha poesia e rotina isso de sentir sua falta – e você sabe o quanto eu odeio repetição. Você também odeia. Mas, caralho, eu sinto tanto a sua falta. Falta de você por inteiro, não só do tal do sorriso ou do seu gosto musical, do que a gente viveu e ainda ia viver. OK, sinto um pouquinho disso, também. É que é difícil aceitar que o jantar de sushi virou só um “e se”, outra promessa descumprida. É difícil aceitar que você, logo você, entrou pra o hall dos caras do meu passado – e para o cantinho escuro dos que quebraram meu coração.

Talvez eu tenha me decidido sobre o que mais eu sinto falta em você. Na gente. Desde que você foi embora, eu perdi o gosto por pensar e falar qualquer bobagem. Você sabe, quando eu me apoiava no parapeito de qualquer lugar e comentava sobre qualquer coisa, fitando o céu ou a avenida, e você sempre me esperava terminar antes de me beijar. Era quase sempre besteira, mas era nossa besteira. Eu sinto falta disso. Pensar com você, conversar com você – quando a gente se entendia. Como a gente se entendia. Porque, você sabe, a gente sempre se entendia.

E eu espero que alguém leia isso e entenda o quanto arde ter de escrever os verbos no passado e os pronomes no singular. Do único presente ser “sinto”. De não existir mais “sentimos”, “somos”, “gostamos”. De não existir mais nós, de “a gente” ser só mais um capítulo bonito com desfecho feio. Uma página virada entre tantas outras. Porque parece injusto a nossa história acabar assim. Com nossos momentos, nossos sentimentos e a nossa noite sendo só meus, e sendo só uma história para contar entre outras no meio do porre. É injustiça deixar passar um amor assim.

Mas se você deixou passar tão tranquilamente, substituiu nossas lembranças por outras suas tão facilmente, eu também consigo. Eu vou te deixar voar – você, o sorriso e todo o resto – e vou voar também. Mais alto, mais longe. Respirar sem você. Pensar. Não é como se isso fosse instantaneamente curar todo esse vazio que você deixou, mas foi a forma que encontrei. Obrigada pelos momentos, obrigada pelos sorrisos, mas chegou minha hora de sorrir sem você.