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Arte de Liz - Quadriláteros Inexistenciais |
Ei. Continua
assim, pertinho de mim. Pode tirar os óculos – mesmo tendo consciência de que
eu sou um borrão quando cê tá sem eles, eu quero ver seus olhos, sem nenhum
obstáculo. Acaricio sua bochecha e te enxergo fundo, fixo em sua íris, grande,
cor de nutella. Deslizo os dedos por seu rosto e você pisca, mostrando os
cílios, compridos e curvadinhos. Me encolho e te abraço, sentindo seus lábios
em minha testa, presenteando-me com um beijo ruidoso. Fecho os olhos.
Eu adoraria ter
palavras para descrever tudo o que acontece dentro de mim quando você está
próximo, mas não creio que seja possível. Quantos poetas ao todo já se
empenharam em descrever esse sentimento, sem sucesso? Eu jogo a toalha. Sei que
lendo isso você responderia sem hesitar que é amor, mas eu considero “eu te
amo” uma expressão muito vaga – quase insuficiente, sabe? Incompleta. Porque eu te amo é uma coisa banal, cotidiana.
O que a gente tem é diferente.
O que eu sinto
no sábado à noite, quando você alega estar perto e eu ainda tentando me livrar
da pilha de cadernos de cima da cama, não é amor. Não é só isso. É ansiedade,
medo – felicidade. As pernas não param, o batimento acelera, o sorriso não
descansa. Quando você chega e eu posso finalmente laçar minhas pernas em seu
corpo ao ser levantada no ar, eu tenho certeza de que as quatro sílabas são
totalmente ineficientes no trabalho de reunir tudo o que eu experimento ao
ouvir o som da sua risada.
Você me
pergunta se o que eu escrevo são cartas de amor, então hoje eu te respondo:
não. São cartas de muito-mais-que-isso.
Este é um dos incontáveis papéis que eu amasso tentando explicar minha reação
ao toque dos seus braços, à textura dos seus cabelos, ao quanto meu coração
esquenta só com a possibilidade de matar um pouquinho da saudade que a gente
acumula durante a semana. Um dia eu juro que invento um termo que agregue tudo
isso, resumindo tudo aquilo que eu tento ilustrar quando paro para me declarar.
Enquanto isso, usarei esse termo batido e abusarei dos advérbios – talvez
aumentado para “eu te amo tanto, muito” signifique algo parecido com o
que eu sinto ao seu lado.
Sabe (...)
Quando o tempo
passa rápido
Quando você
está ao lado dessa pessoa
Quando dá
vontade de ficar nos braços dela
E nunca mais
sair.
(Sei, eu sei.)